Dicas para o mercado de ações

Nome: Rodrigo Sanchez de Almeida

Coloco aqui minha visão e até um pouco de minha modesta experiência com o mercado de capitais. Saliento que são visões e idéias particulares e que de forma alguma devem ser levadas a risca por ninguém.

 
1 - Ter visão de longo prazo ( 5 anos pelo menos )
 
Sempre que possível, aplicar em papéis mais seguros - de bons fundamentos, de empresas consolidadas como Vale e Petrobrás. Foi assim que iniciei no mercado; utilizando o FGTS na ocasião da oferta destes papéis.
 
No período de 5 anos pelo menos, devemos "esquecer" deste recurso que aportamos. É assim um dinheiro que sabemos que não poderemos lançar mão de imediato.

 
2 - Em 80% das vezes que fugi da estratégia de longo prazo; amarguei  com prejuízos.

Exemplo: comprar e vender ações em curto espaço de tempo, podendo ser até um dia o intervalo.
 
Pode até dar certo está estratégia; entretanto a probabilidade de ganharmos dinheiro é infinitamente inferior a de perdermos dinheiro, principalmente em períodos como o visto recentemente de alta volatilidade provocada pelo soluço na China. Por que isto?
 
Como dizia minha avó: " Em tempo de muda, passarinho não canta"
 
Este ditado é válido para o mercado de ações, pois nós investidores pessoa física não temos tempo em acompanha-lo de perto e a todo instante. Além disso, o volume de dinheiro movimentado é relativamente pequeno se comparado ao mercado global.

Levantamentos recentes apontam que as pessoas físicas representam 29% de todo recurso aplicado no mercado da Bovespa, 30% são representados por fundos de pensão nacionais e alguns bancos como a PREVI e o BNDES respectivamente e a maioria do volume negociado, ou seja, 41% são representados por fundos estrangeiros.
 
Situações de forte oscilação como esta, são provocadas em sua maioria pelo movimento de recursos de estrangeiros (movimentos especulativos); operando grandes volumes que fazem oscilar os papéis para baixo ou para cima em função da leitura e interpretação das notícias da economia mundial; traduzindo-as como boas ou ruins.
 
Nós pessoas físicas; na maioria das vezes; não temos condições de acompanhar esta loucura que é o movimento especulativo de curto prazo da Bolsa de Valores. Sinceramente eu nem pretendo fazer isto.
 
Veja que aqui não desaprovo os especuladores, que são aqueles que estão no mercado para obterem ganhos no curto prazo, aliás estes são saudáveis e imprescindíveis ao mercado, pois conferem liquidez ao mesmo.
 
 
3 - Estabelecer uma meta
 
Um dos maiores efeitos que este mercado produz na mente das pessoas é o imediatismo de querer ganhar muito no curto prazo. Que bom seria se tivéssemos bola de cristal.
 
A ganância é um grande vilão; querer sempre ganhar mais e mais. Isto é perigoso e a pessoa pode se machucar bastante se vier um revés de mercado não esperado. Nem sempre conseguimos sair vitorioso.
 
Para gerenciar o risco podemos estabelecer uma meta observando os tópicos:

- em 1º lugar, planejar-se financeiramente. Fazer os custos caberem dentro do orçamento e ter a disciplina de reservar algum recurso para investir em ativos.

- por quanto tempo posso disponibilizar um recurso na renda variável sem comprometer meu orçamento;
 
- quanto investir em renda variável;
 
- quanto investir em cada papel (composição da carteira);
 
- qual(is) papel(eis) investir e de qual(is) setor(es) da economia
 
- por final, estabeler uma meta. Exemplo: 100% de lucro líquido em 5 anos.
 
Estes itens ou podemos pedir sugestões com a corretora que trabalhamos ou temos que garimpar informações no mercado diariamente, como análise gráficas ou fundamentalistas o que é bastante trabalhoso.

Atenção: qualquer palpite de investimento é uma expectativa. Mesmo os analistas, que são especialistas neste mercado, não tem a chave de todos os segredos e não são adivinhos.
 
 
4 - estar preparado para os períodos pessimistas dos mercados
 
Considero este o mais complicado e o pior dos efeitos nocivos que o mercado pode provocar nas pessoas.
 
 
Quando tudo vai bem é um mar de rosas; entretanto devemos nos programar e nos preparar para as realizações que o mercado faz de tempos em tempos. O primeiro impulso que a maioria das pessoas tem é se desfazer dos papéis com medo de maiores perdas e amargar com prejuízos. Ser direcionado pelo efeito manada.

O efeito é psicológico. O medo de perder mais, provoca uma onda pessimista generalizada.
 
Reafirmo que não devemos nos preocupar com estes movimentos, se os fundamentos da economia mundial e da economia brasileira apontam no longo prazo para um bom desempenho. Não podemos esquecer o item 1 - nosso objetivo numero um, ou seja,  de pensar como um "investidor" no longo prazo com no mínimo 5 anos.
 
Outro fato é que o mercado não pode subir continuamente para sempre; não existe nada assim na natureza. Os movimentos de queda são naturais em qualquer mercado e até podem apontar para ótimas oportunidades de compra - ações com grande desconto.
 
Mais uma vez, se o fundamentos da economia mundial e brasileira forem bons, o mercado retomará sua trajetória ascendente.
 
Eu sei que não é fácil pensar assim e pode ser doloroso e demorar para colhermos os louros da vitória; entretanto temos que ser frios e não muito emotivos com este mercado.
 
 
5 - evitar a excessiva consulta de palpites e mudança constante de carteira de investimentos
 
Aqui tive algumas experiências boas e ruins.
 
Boa: investimento no IPO da Gafisa - mercado construção civil. Fui orientado por um amigo economista em fazer a reserva destas ações e resolvi arriscar junto com meu irmão.
 
Resultado: IPO em fev.2006  compra a R$ 18,50 / ação  e venda em nov.2006 a R$ 35,00 / ação. Nada mau, não é mesmo! Em nove meses veja só que rentabilidade.
 
Aqui você pode estar se perguntando, mas não era para ser investimento de longo prazo, no mínimo 5 anos?! Então a meta prioritária não foi cumprida!
 
Ok, realmente não foi cumprida olhando para este papel isoladamente, mas foi cumprida olhando como um todo na carteira de investimentos. O que quero dizer é que percentualmente as ações da Gafisa representavam 10% da posição de minha carteira em fev.2006 o que não comprometeu a meta global de longo prazo da carteira.
 
 
Em outras palavras, as vezes, vou ao mercado e olho alguns IPO´s com expectativas de ganho no curto prazo e resolvo investir; mas num percentual que, por exemplo represente no máximo 10% da composição da carteira.
 
Este caso deu muito certo! Poderia dar errado? Claro que poderia, nós estamos falando em investir em ativos de risco e no curto prazo sabemos que os riscos são maiores em função da volatilidade de curto prazo.
 
Ruim: mesmo amargando prejuízo vendi um ativo da minha carteira em troca de outro ativo que um analista havia colocado em carteira recomendada com elevado up side no curto prazo.
 
Aqui cometi diversos erros;
 
i - não cumpri meu objetivo de longo prazo, e o pior vendi ações da Petrobrás com fundamentos sólidos, somente por que o papel  vinha apresentando desempenho acumulado inferior ao Ibovespa durante 6 meses.
 
ii - o percentual em carteira da Petrobrás era relevante;
 
iii - não me lembro, mas acho que comprei Braskem e o resultado da troca foi que se eu tivesse esperado mais 1 mês apenas;  sairia vencedor em Petrobrás. E ainda para piorar; a aquisição da Braskem não me ajudou em nada, só serviu para eu pagar mais corretagens nas operações de compra e venda. Resultado perdi nas duas pontas.
 
iv - Pular de galho em galho de uma ação para outra não é muito saudável, pois implica em altos custos com pagamento de corretagens que vão se somando a cada operação. Temos que focar em alguns setores promissores, com expectativa de alta e em ações de fundamento, alterando a composição % da carteira de vez em quando;
 

6 - Não apostar tudo num único ativo financeiro
 
Aqui não é segredo para ninguém e vale aquela velha frase:
 
" Não colocar todos os ovos numa mesma cesta"
 
ou seja, distribuir os investimentos em ativos de: renda fixa, fundos investimento, negócio próprio (empresa),  imóveis, renda variável (dentro deste diversificar carteira). É preciso diversificar para rentabilizar e principalmente para minimizar os riscos.
 
A fórmula perfeita entre rentabilizar ao máximo com risco mínimo é objeto de inúmeros modelos de carteira de investimento e trata-se de objeto de tese de doutorado.


 
7 - Carteira de dividendos

Montar uma carteira de dividendos pode ser interessante como forma de rentabilizar-se anualmente com empresas que tem boa política de distribuição de dividendos (dividend yield) e logicamente tem perspectiva de geração de caixa e lucros constantes. Exemplos: Telesp celular, CPFL Energia, Telemar, Brasil Telecom, Banco Itaú, Banco Bradesco.


8 - Ser sócio da empresa

Investir em ações não é apenas rentabilizar, o que sem dúvida é o mais importante. Mas também é ter a oportunidade de apostar num país melhor, participando e apostando na saúde financeira das empresas, participando dos lucros atingidos pelas mesmas.


9 - E se der errada a estratégia dos 5 anos?

Aqui fica uma afirmação importante:

Você perderá dinheiro se for afoito e realizar prejuízo. Se ficar quieto, despreocupado com as notícias do dia-a-dia do mercado poderá até vir a ganhar muito dinheiro. O que é difícil dizer é em quanto tempo isto poderá acontecer, isto depende de muitas variáveis.

Mas esteja certa de uma coisa, se o mercado sobe ele também desce e a recíproca é verdadeira. Precisa ter muito sangue frio, perseverança e acreditar em sua estratégia de investimentos.


10 - Incidência de IR sobre os ganhos

Uma observação muito interessante está relacionada a forma de incidência de imposto - IR - no mercado de ações.


Você somente será tributado pela diferença positiva, entre o valor da venda e da compra descontada as taxas de corretagem; no momento que você liquidar a posição. Assim se você permanecer 5 anos com ação de determinada empresa e esta rentabilizar em 400%, você pagará imposto somente no momento da venda.

Obs: atualmente a alíquota de IR esta em 15% sobre o lucro em operações de ganho de capital no valor superior a R$ 20 mil, somando operações de compra e venda. Operações de compra e venda inferiores a R$ 20 mil que resultem em lucro estão isentas de IR.

Para operações de day trade - compra e venda no mesmo dia - a alíquota é de 20% sobre o ganho.

Veja que há muitos benefícios relacionados a incidência de imposto se comparados aos outros tipos de investimento como os CDB´s e os fundos de investimento.

 


11 - Males do mercado
 
Devemos ter ciência que os mercados não são perfeitos. E por quê?!
 
Infelizmente existem figuras no mercado, mais conhecidas como manipuladores, ou no jargão de mercado os "insiders information" que utilizam-se de informações privilegiadas para obtenção de ganhos elevadíssimos no curto prazo.
 
Temos vários exemplos recentes, e tem acontecido muito. Haja vista a perspectiva de consolidação de alguns setores e a grande onda de fusões e aquisições verificadas em outros.

A ganância ultrapassa os limites!
 
Estas figuras sim, tem que ser banidas do mercado de capitais e devem ser penalizadas com pagamento de elevadíssimas multas; pois produzem prejuízos a maioria e comprometem a lisura e confiabilidade, itens muito importantes ao funcionamento e sucesso de qualquer mercado.
 
Exemplos recentes:

Caso 1 - Rumores de oferta de compra da Perdigão pela Sadia: suspeita de vazamento de informação uma semana antes da oferta oficial. Elevação de 25 % nas cotações das ações da Perdigão em uma semana.

Investigação promovida e concluída pela CVM com sucesso. Um diretor financeiro da Sadia é notificado e obrigado a pagar multas elevadas pela utilização de informação privilegiada em causa própria.

Semanas depois, diretor é destituído do cargo na Sadia.


Caso 2 - Suspeita de troca de informações privilegiadas, entre um ex-diretor da CVM e um investidor estrangeiro: caso de forte volume de venda de ações ON da Telemar em função de informação obtida dentro da CVM dias antes da mesma emitir uma orientação que foi contra os interesses de acionistas detentores de ações ordinárias e majoritários e em contra partida a favor dos acionistas minoritários e detentores de ações preferenciais (em sua maioria fundos estrangeiros).

O fato ocorreu de um parecer da CVM sobre qual classe de acionistas teria direito a voto em Assembléia a ser realizada para decidir sobre a aprovação do processo de reestruturação das empresas do grupo Telemar - Oi.

Resultado: afastamento do Diretor da CVM e resultado para o mercado de perda de 25% do valor das ações ON da Telemar. A empresa perdeu cerca de 25% do seu valor de mercado em apenas dois dias. Um desastre total! Este considero o mais grave, pois envolveu um ex-diretor da própria instituição que regula o mercado de capitais.

Está ainda na fase de investigação e apuração de mais dados. Já faz 8 meses. (Revista: Isto é dinheiro set.2006 - Os segredos rasgados da CVM)


Caso 3 - Oferta de compra concretizada da Ipiranga pelo pool de empresas: Petrobrás, Ultra e Braskem.

Suspeita de vazamento de informações privilegiadas um dia antes do anuncio oficial ao mercado.

Resultado: apreciação de cerca de 75% das ações ON da Ipiranga num único dia.

No momento a CVM está tomando ações cabíveis no processo investigatório.


Como podemos perceber, os insiders podem provocar efeitos extremamente nocivos ao mercado, seja puxando a cotação para cima ou para baixo das ações.

Das duas formas, a CVM, como órgão regulador o qual estabelece as normas e também fiscaliza o mercado de capitais, deve ter maior idoneidade possível e punir estas eventuais operações criminosas preservando a imagem e levando transparência ao mercado.

 

 

Finalizando, deixo registrado que investir em ações não é nada fácil, trabalhar com dinheiro não é fácil. È um exercício de paciência e frieza. Muitas vezes vamos nos tomar pelo stress deste mercado, é verdade.

Entretanto; nunca devemos nos esquecer de traçar nossas próprias metas e objetivos. Cada investidor tem sua percepção de risco e estratégias próprias.

Sempre temos como tirar algum proveito na busca pelo conhecimento, através de lições e troca de experiências que vamos acumulando ao longo de nossas vidas seja aplicada ao ambiente de trabalho, seja nas relações familiares, seja com nossos amigos, seja na prática de um esporte, seja em algum estudo que estamos desenvolvendo, seja no objetivo de atingir a independência financeira estudando o mercado de capitais.

Eu não tenho a fórmula certa de como ganhar dinheiro sempre, mesmo porque se dissesse isto seria um grande mentiroso.

Mas posso dizer que tenho realmente muita satisfação em sempre buscar mais conhecimento sobre o mercado de capitais é uma satisfação pessoal. Maior satisfação pessoal é poder compartilhar idéias e experiências com as pessoas.

De tudo que falei o mais importante é isto, trocar idéias!


Deixo duas frases que li e achei muito interessante de duas pessoas muito diferentes e o que pensam sobre o mercado de capitais;


" Se o presidente do Federal Reserve me confidenciasse qual seria a próxima política monetária adotada, eu não mudaria em absolutamente nada o que faço no mercado de capitais" 

Frase de Warren Buffet fazendo menção ao ex-presidente do FED Alan Greespan. W. Buffet trata-se do investidor de maior sucesso no mundo no mercado de ações. Detalhe: É a 2º pessoa de maior riqueza no mundo, atrás apenas de Bill Gates.
(referência: Halfeld, Mauro - Investimentos 2001)

 

" A melhor forma de construirmos nossa aposentadoria, garantindo nossa independência financeira é através do investimento em ações. Não inventaram nada melhor que isto"

Frase de Carlos Lessa, ex-presidente do Banco Central. Este grande investidor tem o caráter peculiar de investir em ações que geram bons dividendos e de forma constante. (referencia: Jornal Valor Econômico - junho 2005).

 

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